quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Um Gari!



Oi amigos, começo a semana com um desabafo: como é difícil viver nesse planeta! Em uma das minhas idas e vindas pela cidade das mangueiras, deparei-me com uma situação que para muitos já se tornou banal, mas que para mim, ainda causam náuseas, sintoma clássico de quando eu fico indignado.

Ao me preparar para descer do “buzão”, presenciei uma cena lastimável, um senhor bem vestido olhava com todo desprezo que cabia em seu coração para um rapaz com os seus vinte e poucos anos, o jovem estava vestido com botas de cano longo é um macacão “laranjinha” muito típico de nossa cidade, o senil com fanfarronice lançou um olhar de desdém para o moço, tudo porque ele estava trajado com sua farda de serviço, o jovem é gari.

A atitude enojada do homem vestido de vendedor de bíblia é apenas um dos muitos exemplos de preconceito que acontecem todos os dias. A segregação em classes da sociedade capitalista não é novidade para quem tem acesso ao mínimo de informação, de um lado temos os donos dos meios de produção e os controladores do capital financeiro (burguesia), e do outro, os trabalhadores que vendem sua força de trabalho em troca de um salário aviltante que mal dá para se alimentar (proletariado).

Além do preconceito demonstrado pelo senhor com relação à profissão e as conseqüências da função após um dia de trabalho (mau cheiro talvez), o que mais me impressionou foi o sentimento de superioridade evidenciado pela ação desse infeliz idoso – um rei na barriga seria insuficiente para utilizar na metáfora.

Suponho que o fato de os dois cidadãos estarem utilizando o transporte coletivo indica que eles são da mesma classe (proletária), então por que o senhor bem vestido achou-se superior ao jovem trabalhador? - É muito simples! O aparente vendedor de bíblias não se identifica com o gari porque ele não se considera da mesma classe que o rapaz, a divisão do trabalho permite que pessoas da mesma classe tenham a falsa sensação de estar em castas diferentes, pois a valorização de uma profissão em detrimento da outra é um dos instrumentos utilizados pelo sistema como forma de desarticular qualquer movimento contrário à exploração exercida pela burguesia.

É mais fácil você achar que é superior ao outro só porque você teve ou aproveitou as oportunidades que surgiram na sua vida do que juntar forças em busca de conquistas coletivas maiores. Ao presenciar a cena descrita acima, fico me perguntando, se eu estivesse no lugar do gari, o que eu faria? Fingiria como ele fez para não arrumar algum tipo de confusão? Ou reagiria indignado e partiria para tomar satisfação? E mais... será que a minha namorada teria se interessado por mim ao saber da minha profissão insalubre? Penso que qualquer das opções por mim escolhidas não resolveria o cerne da questão, a divisão só enfraquece e distancia ainda mais qualquer possibilidade de mudança social, perpetuando o status dos poucos que têm muito e dos muitos que têm pouco. Até a próxima postagem!





Foto: http://www.fotogarrafa.com.br/arq_bck/200211_f%20o%20t%20o%20g%20a%20r%20r%20a%20f%20a.htm

Nenhum comentário: